As duas localidades são consideradas como meninas dos olhos do mercado imobiliário e também interessam ao público consumidor.
Localizados na Zona Norte do Recife e próximos do centro da capital pernambucana, os bairros do Rosarinho e Encruzilhada se tornaram a menina dos olhos do mercado imobiliário. O fato de terem infraestrutura semelhante à de bairros tradicionais e estarem integrados a regiões como Espinheiro e Graças, ao mesmo tempo em que possuem metro quadrado um pouco mais acessível, fez com que as construtoras e o público passassem a investir naquela localidade. Muito embora o mercado esteja passando por um período de desaquecimento devido à crise, a expectativa do setor é de que a retomada de novos lançamentos volte a acontecer justamente nos dois bairros.
Um dos fatores que impulsionou essa tendência de expansão foi a chamada lei dos doze bairros (16.719/2001), que aplicou restrições para novas construções em alguns deles, a exemplo do Espinheiro, Derby e Graças. “Aquela região da Zona Norte vem numa expansão gradual ao longo dos últimos 30 anos. O mercado tradicional era no Espinheiro, mas, com as restrições, dificultou-se o acesso. Com isso, as pessoas que tinham crescido nos bairros daquela localidade e queriam morar na mesma região precisaram optar por bairros vizinhos”, explica Antônio Carrilho, diretor de comunicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil do estado (Sinduscon-PE).
Com isso, segundo ele, houve uma limitação na oferta, que teve impacto direto no preço do metro quadrado. Um imóvel no Rosarinho pode ser até 25% mais barato do que um de mesmo perfil localizado no Espinheiro. Já na Encruzilhada, o preço pode ser até 35% menor, de acordo com Carrilho. Entre as restrições aplicadas pela legislação, estão limitações de altura – os prédios precisam ter no máximo 60 metros -, e coeficiente de uso de terreno (relação da área construída com área total do terreno), que é menor se comparado a outros bairros.
Apesar de ser uma tendência já consolidada, ainda há espaço para novos empreendimentos, especialmente na Encruzilhada. “Aquela região nos arredores da Estrada de Belém tem potencial. O recifense ainda não abraçou aquela região com grande entusiasmo, mas sem dúvidas é uma forte área de expansão sim”, afirma Gildo Vilaça, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do estado (Ademi-PE). Segundo ele, a densidade demográfica naquela região ainda é menor em relação a outras localidades da capital pernambucana.
A maioria dos imóveis comercializados naquela região, de acordo com a Ademi-PE, possui de dois a três quartos. “O mercado em si já não tem tantas opções para famílias grandes (mais de três quartos)”. Na avaliação de Gildo, há alguns poucos espaços ainda disponíveis no Espinheiro, Graças e Derby, mas são casos pontuais e o mercado não deve se expandir mais por esses bairros.
Com dois empreendimentos na região, a construtora Conlar decidiu investir na localidade devido às facilidades encontradas. “São bairros já consolidados no tocante à infraestrutura urbanística e com um preço atraente”, afirma Jair Ferreira, diretor da empresa.
Na avaliação de Ferreira, a tendência de expansão deve retornar após os reflexos da crise econômica no país passarem.
O circuito Zona Norte
Assim como acontece em todas as edições do Diario dos Bairros, a reportagem ouviu personalidades que moram e têm uma relação com a Zona Norte do Recife, especificamente nos bairros de Rosarinho, Espinheiro, Encruzilhada, Graças e Derby. Os músicos Victor Camarote, Mônica Feijó e Maciel Melo falaram sobre seus locais preferidos e quais são aqueles que indicam para quem está visitando a região. Também destacaram os restaurantes que precisam entrar no roteiro turístico da região, bem como os desafios enfrentados por quem mora na localidade.
Victor Camarote – músico
Mônica Feijó – música
Maciel Melo – forrozeiro
Qual sua relação com o bairro?
Victor Camarote
Nascido e criado na Encruzilhada. Só saí para morar na França por cinco anos. E adoro a Zona Norte. Sou um típico morador da região.
Mônica Feijó
Vivi 27 anos na Zona Sul, depois mais alguns anos na Rua da Aurora e optei pelas Graças quando tive filho, por ser um local com um polo educacional forte. Hoje, não troco a Zona Norte por nada. Faço tudo sem sair daqui.
Maciel Melo
Nasci no Sertão do Pajeú e morei no meu chapéu grande parte da vida, com destaque para Petrolina, onde minha família se fixou e, para o Rosarinho, onde morei por quase uma década e é o lugar que mais me identifiquei dentre aqueles que morei. Há quase dois anos moro em Aldeia, mas me considero da Zona Norte do Recife.
Quais os espaços, sejam eles comerciais ou não, marcaram a sua memória?
Victor Camarote
No passado, frequentei o Cantinho das Graças e o Remelexo. Marcaram época entre a juventude da região. Outro espaço que eu sempre curti foi o Mercado da Encruzilhada, tem vários bares ali que eu amo: o Reinado, Beberibe e o Reciclobike, que também conserta bicicleta.
Mônica Feijó
Os espaços da minha memória na região são o Depois do Escuro e No Meio do Mundo, que marcaram época no Recife, nos anos 1980. Mais recentemente, também teve o Garagem, que fica no final da ponte e reunia todas as tribos da madrugada. Esses lugares me deixam com saudade.
Maciel Melo
Eu sempre gostei do Mercado da Encruzilhada e do da Madalena, passei ótimas tardes ali. Também lembro demais do Som das Águas.
Quais os locais que você faz questão de indicar para amigos que estão visitando o bairro?
Victor Camarote
Eu curto muito a Bodega do Eduardo, que fica na Marechal Deodoro, e a Bodega Retrô, perto do mercado. Tem o Bar do Jabuti, no Hipódromo, e ainda tem espaços muito legais como o Quintal Cozinha pra Torar, que fica ali entre Encruzilhada e Campo Grande, e o Pequeno Latifúndio, da jornalista Aline Feitosa, que fica na Rua Gomes Pacheco, no Espinheiro.
Mônica Feijó
Eu gosto muito do Reteteu Comida Honesta (Rua Otávio de Freitas – na Encruzilhada), comida de muita qualidade e o espaço também é excelente. Sempre vou na Praça do Baobá, na Jaqueira. O Tokio Café eu frequento quase todos os dias e adoro e, de padarias, eu adoro o Galo Padeiro e a Pan Jovem.
Maciel Melo
O mercado é obrigatório, o Bar Real, em Casa Forte também. Além desses, eu gosto muito da Bodega de Seu Domingos, na Rua Luís Rodolfo de Araújo.
Existe algum hábito de consumo específico no bairro que você identifica?
Victor Camarote
Acredito que as pessoas que moram na Zona Norte acabam tendo um lazer cultural. A gente gosta de música, dança, cinema e programações que envolvam isso, os amigos, uma cerveja gelada e boa comida.
Mônica Feijó
Aqui, a gente faz tudo a pé e as pessoas gostam muito de comprar frutas e verduras com frequência. Acho que tem muita gente que compra todos os dias. Eu mesmo, sempre que posso, passo na loja Fruta Verde e levo algo fresquinho para casa. Acredito que isso tem tudo a ver com o ritmo e a qualidade de vida da região.
Maciel Melo
Acredito que as pessoas da Zona Norte têm hábitos e conversas mais densas. São muito acolhedores e mais espirituosos. Acho que essa harmonia e filosofia fazem toda a diferença.
Quais os desafios que podem afetar a vida comercial e econômica do bairro?
Victor Camarote
O obstáculo maior hoje é o trânsito ou a falta de mobilidade. A gente teve algumas alterações recentes no tráfego da Encruzilhada e da Avenida Norte, mas ainda não dá para sentir diferença.
Mônica Feijó
O desafio maior é o controle imobiliário. Na minha concepção, não tem muito mais como construir na região, já tem muito prédio. Além da perda da tranquilidade e da natureza, mais prédios intensificam os problemas de mobilidade da região. É mais carro na rua.
Maciel Melo
Acho que a questão de segurança ainda é um problema grande em qualquer bairro do Recife e isso tira a boêmia da região. Com medo, as pessoas ficam em casa e o charme dos bairros desaparece.
Fonte: Diário de Pernambuco
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